Por Katterina Zandonai | 25 de setembro de 2021
O economista Joaquim Castro vem revolucionando o mercado da Cannabis Medicinal no Brasil. Com uma visão empreendedora e atento às mudanças do mercado mundial, criou a Clínica Gravital, rede médica pioneira e mais sólida no País, especializada no atendimento de pacientes que buscam tratamentos à base de Cannabis. Castro falou com exclusividade ao Green Science Times sobre sua visão da Cannabis Medicinal, comentou o cenário do mercado atual, sua visão do uso industrial e fez projeções para 2022 sobre investimentos na planta.
Engana-se quem pensa que ele é novato nesse ramo. Acompanhando o crescimento extraordinário do uso terapêutico, recreativo e industrial da planta fora do Brasil, em 2016, Castro decidiu investir em empresas voltadas à indústria da Cannabis nos Estados Unidos. Seu portfólio diversificado e sua capacidade para enxergar novas oportunidades o fizeram expandir seus negócios e criar um fundo offshore, o Blue Dream Capital Partners.
Do primeiro investimento na American Cannabis Company Inc., uma empresa de Denver no Colorado, que presta consultoria a operadores que desejam ingressar no segmento da planta, até a instalação da Gravital foi uma longa trajetória. A vasta experiência em economia, somado aos anos em investimentos e gestão adquiridas lá fora, fizeram com que o gaúcho de Tapera (no Noroeste do Rio Grande do Sul) voltasse sua atenção para o Brasil.
A aposta de Castro no potencial do nosso País sempre foi grande, mesmo ciente de que com o clima favorável e 80% das áreas cultiváveis aptas à produção da planta, não seria possível investir em plantio e pesquisas devido às restrições impostas pela legislação brasileira. A venda de produtos para headshops, lojas especializadas no ramo, também foi analisada, mas a oportunidade de inovar na área da saúde falou mais alto.
A aposta deu certo
Com uma proposta inovadora no Brasil, inspirada nos consultórios dos Estados Unidos e do Canadá, a Clínica Gravital foi inaugurada em 2019 na cidade do Rio de Janeiro. Hoje, além da matriz no bairro Botafogo, já existem filiais também em Porto Alegre (RS), Itajaí (SC), Curitiba (PR) e São Paulo (SP). Fora o atendimento presencial, os médicos também atendem por teleconsulta.
Oferecendo um ambiente agradável e com profissionais certificados internacionalmente para prescreverem canabinoides, a clínica despontou e se tornou uma referência no País, atendendo hoje mais de 2.100 pacientes, com diversos quadros clínicos e doenças autoimunes, insônia, ansiedade, enxaqueca, Alzheimer, Parkinson e portadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Em meio à pandemia, a clínica especialista em medicina canabinoide praticamente dobrou o número de consultas. O momento agora é de expansão com a instalação de mais duas novas unidades, em Natal (RN) e Sorocaba (SP). A prospecção de investimentos para o próximo ano é ainda maior, antecipa o sócio-fundador.
Gostaríamos de ter pelo menos 10 clínicas com portas já abertas. Sempre que possível, o paciente gosta de ter um local físico para ir. Acredito que traz credibilidade, confiança e legitimidade ao negócio. A abertura de mais unidades significará um time de, aproximadamente, 30 médicos prescritores. Hoje, nossa equipe multidisciplinar é composta por 17 profissionais, entre eles psiquiatras, neurologistas e endocrinologistas.
Cannabis (Medicinal/Industrial): “A melhor hora para investir no Brasil é agora”
O mercado global de Cannabis movimentou no ano passado USD 18 bilhões e segundo o levantamento do Banco de Montreal, ele chegará a USD 194 bilhões até 2026. Não é novidade para ninguém que o Brasil poderá ser o maior produtor e exportador mundial de fibras, sementes e flores para fins medicinais e industriais, mas sem uma legislação forte e melhorias com regulamentações criariam outra realidade.
Apesar do mercado de Cannabis atrair cada dia mais empresas de diferentes setores, tais como universidades, importadoras, farmacêuticas, laboratórios, farmácias, transporte, segurança, Castro é enfático ao afirmar que ainda estamos em um estágio muito inicial.
De fato vemos todos esses players se movimentando, mas a quantidade de recursos que circula é ínfima. Você praticamente ainda não vê grandes investimentos serem feitos ou anunciados (me refiro a acima de USD 10 milhões). Há pouca movimentação de fusão e aquisições. Saindo do mercado medicinal e indo para o cânhamo industrial, também é ainda praticamente inexistente. Na prática, não se consegue comprar itens feitos de cânhamo no Brasil, seja na parte de alimentos, de vestuário ou outras aplicações. Estamos na fase de montar a estrutura e definir as bases.
Apesar disso, Joaquim está cada dia mais otimista quanto ao mercado interno.
Acho que nosso crescimento no cânhamo industrial e na Cannabis Medicinal será puxado pelo mercado interno, assim que a legislação passar a permitir o cultivo. É fato que a conjuntura política não favorece a expansão rápida do mercado no Brasil, mas, novamente, vejo aí uma oportunidade para quem, como é o exemplo da Gravital, investe e ajuda esse mercado a crescer desde já. A melhor hora para investir no Brasil é agora.
Continue acompanhando a entrevista do economista Joaquim Castro, sócio-fundador da Clínica Gravital:
Green Science Times (GST) – Nascido em Tapera (RS), tem 43 anos de idade, é formado em economia pela UFRGS (2000) e com mestrado em economia na EPGE/FGV-RJ (2007), mora no Rio de Janeiro. Desde 2017 gerencia um pequeno fundo de investimentos em Cannabis nos Estados Unidos, o Blue Dream Capital Partners. Como decidiu investir em cannabis?
Joaquim Castro (JC) – O investimento em cannabis começou em agosto de 2016 após vender um imóvel na Florida e estar com recursos disponíveis que precisava decidir entre repatriar ou seguir investindo. Sob indicação de um amigo que já sabia que existiam empresas de capital aberto do segmento da cannabis passei a olhar a oportunidade. Após analisar a situação fizemos investimentos em pequenas empresas da industria cannabica nos EUA, montando um portfolio diversificado que deu origem ao fundo Blue Dream Capital Partners um tempo depois. Nosso primeiro investimento foi em uma empresa de Denver, Colorado, chamada American Cannabis Company, Inc., uma empresa que presta consultoria a operadores que queiram entrar no segmento da cannabis.
GST – A Clínica Gravital conta, atualmente, com cinco unidades no Rio de Janeiro, Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), em Itajaí (SC) e São Paulo (SP). Além disso, há duas unidades que estão sendo montadas: Natal (RN) e Sorocaba (SP). Como surgiu a ideia de montar a rede de clínicas?
JC – A ideia de montar a clínica veio por conta de investimentos que fizemos, via Blue Dream, em rede de clínicas que atuam no Canada, como a Aleafia. Na verdade foi por exclusão. Partindo do princípio que a cannabis medicinal chegaria ao Brasil de forma mais consistente tinha que escolher qual a melhor forma de se posicionar, dentro da legalidade. Excluímos então cultivo. A venda de produtos para headshops era uma alternativa, porém já havia outros players. Excluímos iniciativas apenas de pesquisa pois avançamos no assunto e concluímos que era muito difícil fazer no Brasil. Já as atividades de uma clínica estão resguardadas pelas Resoluções da ANVISA além de, na forma da regulamentação atual, tudo começar por uma recomendação médica. Então estamos na linha de frente, com possibilidade de obter informações preciosas como por exemplo qual o perfil do paciente, o que ele tem usado, quanto ele está disposto a dispender, como a classe médica enxerga. essas iniciativas, etc.
GST – Gravital em números: quantos pacientes já atenderam? Contam com quantos profissionais em atendimentos? E qual é a prospecção para prevista para 2022?
JC – Hoje são mais de 2.100 pacientes, com idades entre 3 até 91 anos. A maioria são mulheres. Estão disponíveis e treinados 17 médicos, sendo 6 psiquiatras, 2 neuro, 2 endocrinologistas, dentre outras especialidades. Gostaríamos de ter pelo menos 10 clínicas com portas já abertas. O que significará um time de aproximadamente 30 médicos prescritores. Sempre que possível, o paciente gosta de ter um local físico para ir. Traz credibilidade, confiança e legitimidade ao negócio.
GST – Quais são os países que observa, para buscar referências do que é qualidade e saúde para pacientes de Cannabis Medicinal?
JC – Olhamos todos os países em que a Cannabis Medicinal já está mais avançada. Mas especialmente Estados Unidos. E olhamos cada vez mais nossos vizinhos Colômbia e Uruguai na expectativa de termos produtos a preços mais acessíveis. O mercado da Cannabis é muito promissor e cobiçado, e empresas de diferentes setores, tais como universidades, importadoras, farmacêuticas, laboratórios, farmácias, empresas de transportes e segurança estão investindo pesado nesse nicho.
GST – Como avalia o mercado brasileiro de Cannabis Medicinal e Industrial?
JC – Falando do mercado medicinal, estamos ainda em estágio muito inicial. De fato vemos todos esses players se movimentando, mas a quantidade de recursos que circula é ínfima. Você praticamente ainda não vê grandes investimentos (me refiro a acima de USD 10 milhões) serem feitos ou anunciados. Há pouca movimentação de fusão e aquisições. As medidas ainda são na casa dos milhares em termos da quantidade de pacientes e, em breve, será de milhões. As grandes empresas do mundo ainda não estão efetivamente aqui, pois erraram o passo nas suas estratégias de internacionalização e agora estão se recuperando dessas perdas. Saindo do mercado medicinal e indo para o cânhamo industrial, também é ainda praticamente inexistente. Na prática não se consegue comprar itens feitos [com fibras] de cânhamo no Brasil, seja na parte de alimentos, seja na de vestuário ou para outras aplicações. Estamos na fase de montar a estrutura, definir as bases. Por isso, acho que ainda é uma grande oportunidade para os investidores.
GST – Acredita que o Brasil ainda será uma potência mundial em Cannabis?
JC – Acredito que o Brasil terá um grande mercado interno e que ele será suprido por produto nacional em uns 5 anos. Todos querem ser uma potência exportadora (Colômbia, Canadá, Uruguai, Paraguai, Estados Unidos e México), mas na prática há poucos países importadores relevantes e as restrições ao comércio internacional de Cannabis são imensas. Então, acho que nosso crescimento no cânhamo industrial e na Cannabis Medicinal serão puxados pelo mercado interno, assim que a legislação passar a permitir o cultivo. Porém, o cultivo será em que base? Para nosso produto ser barato ele não pode ser com base em cultivo indoor. E de outro lado se não for cultivo indoor é mais difícil o controle de qualidade com os níveis de exigência que o mercado medicinal necessita. É fato que a conjuntura política não favorece a expansão rápida do mercado no Brasil, mas, novamente, vejo aí uma oportunidade para quem – como é o exemplo da Gravital – investe e ajuda esse mercado a crescer desde já. De fato os investimentos não serão relevantes até termos um marco legal bem definido.
GST – Qual recado deixa para pessoas que desejam investir no mercado da Cannabis?
JC – A melhor hora para investir no Brasil é agora. Ainda há tempo de errar, ajustar rotas, com perdas relativamente pequenas. Quem quiser investir em produto, tenha um plano de negócios de maneira clara, como a produção será vendida, o que é um grande desafio, e considere preços decrescentes para os produtos à base de Cannabis.
Para conhecer mais sobre a Clinica Gravital, visite o site: www.clinicagravital.com.br.