Por Thiago Ermano, Presidente do Conselho Gestor da ABICANN
03 de setembro de 2023
Estima-se que os mercados da Cannabis Medicinal e do Cânhamo Industrial possam atrair mais de USD 30 bilhões anuais, entrando pelas áreas das ciências, agricultura, serviços e agroindústrias nacionais.
Curiosamente, o valor convertido em reais atinge R$ 160 bilhões anuais, em média, até 2030. Valores que o atual Governo Lula necessita para fechar as contas fiscais do país, em ano de eleições municipais, segundo publicou o portal de notícias G1, do Grupo Globo. (Clique e leia)
“Instalar novos mercados nunca é fácil. Vai demorar muitos anos para esses mercados, ainda em regulação, renderem todo esse capital econômico, não acha?”, perguntaram muitos economistas e técnicos do Estado.
Respondo que sim! Quanto mais demorarmos, mais longe ficaremos da fatia global de USD 350 bilhões anuais, previstos para os mais de 100 países que já regulamentaram seus mercados com a planta Cannabis sativa e seus gêneros botânicos.
Percebam que atraso irracional e carregado de distorções legislativas. Em novembro, completam-se 85 anos de proibição no Brasil do cultivo e entendimento científico sobre os benefícios, malefícios e todo universo – social, ambiental e econômico – que cerca desta riquíssima cultura agrícola milenar, a Cannabis sativa.
Não há lógica para a proibição da Cannabis, além de percepções gerais sobre um racismo e preconceito com os povos negros e indígenas, habituais consumidores de canabinoides para equilíbrio da saúde e para curar os males da mente, muitas vezes violadas pela opressão e abandono do Estado brasileiro. Culturas criminalizadas, é o que temos hoje. Enquanto isso…
A planta mais utilizada (e utilizável de forma sustentável) pela humanidades produz químicas para nutrição, alimentação e para a formulação de medicamentos e produtos para a saúde humana e saúde animal também. Muito comum em mamíferos, o Sistema Endocanabinoide (SEC) é encontrado em praticamente todas as espécies de animais conhecidas, até o momento.
Na produção de bens econômicos e duráveis, entram em cena as fibras do Cânhamo Industrial (Cannabis sativa L.), um tipo de planta com rápido crescimento, não consome tanta água quanto as culturas / commodities atuais, produzidas em solo nacional.
Suas matérias-primas viram tecidos para fazer roupas, produzir todos os objetos que precisar dentro de casa. Pode produzir as paredes, tetos e solo de uma casa. É um excelente biocombustível e bom condutor de energia elétrica. Dentre outras mias de 25 mil tipos de utilizações já mapeadas pelo mercado global da Cannabis.
Na recuperação ambiental a Cannabis/Cânhamo ganham protagonismo universal. Para ter uma ideia, em um hectare de Cânhamo Industrial cultivado pode conter, aproximadamente, 560mil plantas e produzir até 10 toneladas de fibras internas, 4 toneladas de fibras longas, 1600 quilos de sementes e 800 quilos de flores medicinais.
De acordo a Nota Técnica da Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis, produzida por Vinícius Carrasco, engenheiro agrônomo e consultor para projetos de cultivos de Cannabis, esses valores não refletem a realidade nacional e, tão logo o cultivo e processamento desta planta seja regulamentado, certamente sofrerão acréscimos substanciais.
O Brasil pode se beneficiar deste cenário ao buscar dentre as realidades internacionais as melhores práticas agrícolas possíveis, com cultivos naturais e regenerativos, com fixação de carbono e ambientalmente adequados, de acordo com as diretrizes já traçadas no atual plano do Governo Federal em exercício. E pode realizar recuperação ambiental.
Além da questão ambiental, o Cânhamo pode ser aplicado largamente na criação intensiva de animais, ao incorporar as sementes na formulação da ração de aves e suínos, além da biomassa in natura para gado e outros ruminantes. Ademais, a utilização de canabinoides no tratamento de diferentes patologias veterinárias já é realidade no Brasil, seja em pequenos ou grandes animais e está prestes a ser regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).
Até 2030, mais de 150 países já terão regulamentos a respeito de toda a cadeia produtiva do cânhamo. Essa é uma cultura que traz soberania nacional em decorrência de toda a sua versatilidade e possibilidades.
O Brasil é uma potência agrícola, aliando condições climáticas favoráveis à ciência, tecnologia e inovação. Temos que utilizar toda essa estrutura na criação de um cenário regulatório que permita o desenvolvimento desimpedido de toda o cenário envolvendo a Cannabis e seus subprodutos.
A ABICANN acredita em uma regulamentação séria, justa, clara e abrangente que possibilite o surgimento e fortalecimento de negócios envolvendo a Cannabis, e nos colocamos à disposição para apoio à contribuição técnica, para que esse cenário se concretize de forma célere e definitiva.
Atuamos como entidade de apoio técnico aos Poderes no Brasil, atualmente. Compomos Comissões, Gruposde Trabalhos e Frentes Parlamentares que estão regulamentando a Cannabis Medicinal, o Cânhamo Industrial e cooperando para uma nova visão humanizada da Política de Drogas nos países, quando falamos da cultivável Cannabis sativa seus problemas e vantagens.
Regulamentar a legalizar esta planta é uma questão de civilidade e de soberania nacional.
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* Thiago Ermano, Presidente do Conselho Gestor da Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (ABICANN). Networker e especialista na formação e gestão de Redes Humanas, atua na organização da maior feira internacional de conhecimentos profundos sobre a Cannabis sativa, a Hemp Fair Brasil 2023.